CAI OU NÃO CAI?



Paulo Müzell, janeiro de 2019

Decorridas pouco mais de três semanas o governo Bolsonaro esfarelou. Na primeira semana foi um festival de “barrigadas”. O presidente anunciava uma medida num dia e, no outro, seus ministros, constrangidos, o desmentiam. Foi assim com a volta do IOF, a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, o rompimento do Acordo Climático de Paris, o anúncio da instalação de uma base americana no país dentre outras trapalhadas.

Depois tivemos vazamento de dois episódios do caixa dois na campanha de Onyx Lorenzoni, o ministro da Casa Civil. Ele até se desculpou, afirmando ter sido um mero “esquecimento”. Até Moro, outrora juiz tão severo, perdoou. Não adiantou, pouco dias depois veio a público um novo “rolo”: Onyx teria utilizado notas da empresa de um amigo para “justificar” despesas de campanha.

Em seguida o COAF tornou pública uma movimentação financeira de um assessor de Flávio Bolsonaro, ex-deputado estadual pelo Rio de Janeiro, eleito senador na última eleição. As explicações demoraram e quando vieram foram inconsistentes, aumentando a suspeita de prática de ilícitos.

A guerra que o clã declarou à Globo e à Folha de São Paulo estimularam o jornalismo investigativo desses veículos da mídia, até então interessados em pesquisar denúncias de possíveis irregularidades de partidos e políticos da esquerda, especialmente do PT. Guerra declarada e deflagrada, aprofundadas as investigações, o clã virou alvo, ao que parece fácil. Funcionários fantasmas e assessores depositando valores mensais na conta de Flávio, violência de Eduardo contra a mulher, além de ameaças de agressão. Esmiuçado, o patrimônio da “famiglia” verificou-se um crescimento extraordinário: de pouco mais de 1 milhão pulou para 15 milhões em poucos anos. Dos quatro – Jair e os três filhos – apenas Flávio tem uma recente fonte de renda no setor privado, insuficiente para explicar tal “surto de prosperidade”. Jair ex-deputado federal, hoje presidente, Carlos e Eduardo, membros do legislativo, vivem dos cofres públicos.

São antigos os indícios da ligação dos membros do clã Bolsonaro com a milícia carioca. Quem afirma e reafirma que “bandido bom é bandido morto” é claro que aprova a violência da polícia militar, indício de aproximação do clã com as milícias. Os bolsonaros mais de uma vez homenagearam na Assembleia Legislativa policiais militares que foram posteriormente identificados e punidos por integrarem milícias. Recentemente as investigações apuraram que a mãe e a esposa de um dos suspeitos do assassinato de Marielle, trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro.

Se tudo isto não bastasse, a ignorância, o despreparo e o destempero de Jair Bolsonaro ocupam crescentes espaços na mídia internacional. Recente editorial do New York Times previu um futuro difícil, pouco auspicioso para o Brasil. Jornais europeus manifestam espanto e preocupação com Bolsonaro na presidência do país. A passagem de Bolsonaro por Davos aumentou estes receios. Entrou no fórum pelas portas dos fundos, recusou-se a dar entrevistas e seu curto discurso de apenas seis minutos confirmaram o seu total despreparo.

Estes terríveis vinte e quatro dias deste mês de janeiro já produziram um acúmulo suficiente de fatos e atos negativos que indicam que se vislumbra seu iminente afastamento, que ele vai cair? Luiz Nassif, um dos mais experientes e bem informados jornalistas brasileiros, mente aguda, aposta que sim.

Temos que considerar, porém, que é consistente o peso do não. Primeiro temos que reconhecer a considerável força de sustentação de 57 milhões de votos. Na Câmara seria impossível conseguir votos suficientes para o impeachment. O STF (presidido por um Dias Toffoli) e a PGR (por Raquel Dodge) são instituições cujo furor investigativo e punitivo mostrou-se totalmente seletivo. Apoiaram o afastamento de Dilma. Colocaram Temer no poder e o “garantiram” quase três anos. Certamente Bolsonaro não é para eles um mal maior. Como ameaça ao clã resta a grande imprensa, que está dividida. SBT, Bandeirantes e especialmente a Record defendem Bolsonaro. A grande ameaça é a Globo com seu famigerado, mas poderoso Jornal Nacional. Não será possível comprar este precioso silêncio?

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