DEMOCRACIA E PODER




                     

Paulo Müzell - fevereiro de 2019
John Kenneth Galbraith definiu o poder como “habilidade de um indivíduo ou de um grupo conseguir a submissão de outros a seu(s) propósito(s)”. Bertrand Russell complementou, afirmando que o poder na vida social tem um papel correspondente ao da energia no mundo físico. De que forma se exerce o poder, quais os meios utilizados para exercê-lo? Galbraith sintetiza citando o primeiro: punição, coerção, medo: o meio mais primitivo e a forma mais antiga de poder. Segundo: compensação, premiando aqueles que se submetem ao poder, é exatamente o inverso do medo e da punição. Terceiro: persuasão, que é conseguir a adesão através do convencimento, da crença. A sua forma mais perene: quem adere se sente ou tem a ilusão de ser partícipe do poder.

A história da vida em sociedade é a história do poder. A produção do excedente econômico libera mão de obra da atividade diretamente produtiva: nasce a classe ociosa, nas figuras do líder político e chefe da guerra, do pajé e do curandeiro. Resumidamente, os cinco mil anos da história da humanidade consistem na luta da imensa maioria para ser ouvida, participar das decisões e se beneficiar do extraordinário progresso tecnológico ocorrido. Não querendo ser pessimista, considero que os resultados foram até agora muito modestos.

Na idade antiga, média e moderna, ao longo de quarenta e oito séculos, tivemos lentos e milimétricos avanços na luta contra a tirania e o poder absoluto de uma minoria. Os reis e a Igreja lutaram com denodo - e com sucesso - para manter seu poder e privilégios. Só no século XIII, na Inglaterra, um grupo de barões se uniu e teve um breve sucesso num episódio de enfrentamento dos excessos do monarca. A limitação do poder real só ocorreu efetivamente também na Inglaterra no século XVII: iniciada por Cronwell e consolidada na Revolução Gloriosa que depôs Jaime II em 1688. Institucionalizou-se ali o Parlamento e uma Constituição que estabeleceu limites ao poder absoluto do rei.

Decorrem pouco mais de duzentos anos da Revolução Francesa, da ascensão de uma nova classe, a burguesia, do iluminismo, do surgimento da democracia formal e do Estado laico estruturado em três poderes teoricamente autônomos e harmônicos entre si. Apesar do triunfante lema de uma Revolução que prometia – liberté, égalité, fraternité -, as desigualdades não foram superadas, ao contrário, até aumentaram. As potências europeias mantiveram suas colônias na África, Ásia e América Latina até poucas décadas atrás; o sufrágio universal extensivo às mulheres tem apenas oitenta anos. A escravidão foi abolida apenas formalmente há pouco mais de um século: de fato ainda existe nos países pobres e aqui no Brasil. Em muitos países não ocorreu ainda a separação Igreja-Estado. Quase um terço da população mundial vive em países muçulmanos onde a fé religiosa se sobrepõe aos direitos da cidadania e há extrema desigualdade de gênero Mais de dois bilhões de chineses, indianos e japoneses vivem numa sociedade onde ainda impera um patriarcalismo primitivo.

O sistema econômico concentra cada vez mais capital, renda e riqueza: recente estudo revelou que os 26 maiores bilionários do mundo têm uma renda equivalente 3,4 bilhões das pessoas mais pobres, a metade da população o planeta! Um pequeno número de empresas multinacionais controla o avanço tecnológico e a produção mundial. Os ideólogos de neoliberalismo defendem a livre concorrência e uma economia de mercado que não existe mais. Um capital financeiro cada vez desregulamentado e especulativo provoca frequentes crises cíclicas: os lucros são privados; os prejuízos públicos. No final da estória o contribuinte é quem acaba sendo chamado para pagar a conta, ou seja, para cobrir os “rombos bilionários”. A oligarquia concentra cada vez mais a renda e da riqueza dos países, é dona dos meios de comunicação, financia partidos e campanhas, elege políticos e controla de fato os governos e a política. Este é o cenário mundial: nos Estados Unidos, na Europa, na América Latina e aqui no Brasil. E o pior: no passado recente observa-se um rápido e preocupante avanço de uma ultradireita fascista.

Fonte da Imagem: https://www.widewalls.ch/surrealist-paintings/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

JÚNIOR PÕE OS PÉS PELAS MÃOS

A PETROBRAS E AS AVES DE RAPINA

INDIGNIDADE